Estamos em uma pandemia: a de falta de empatia (inclusive de empresas)

Danilo Ferreira
Danilo Ferreira
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3 min readNov 17, 2020

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Photo by Tim Marshall on Unsplash

Caminhando para suas 1.500.000 de mortes (registradas) ao redor do mundo, a covid-19 já não é novidade para você. Provavelmente sua vida e a de outras pessoas que você conhece foi modificada por este vírus que alterou nossas rotinas e causou uma série de impactos sanitários ao redor do mundo.

Porém, vou confessar que, para mim, um dos maiores impactos do coronavírus não foi a sua letalidade. Embora seja muito perigosa em casos mais graves, a taxa de mortalidade da doença é inferior a 1%.

O grande problema da pandemia atual é a incapacidade humana de ter empatia pelo próximo e sacrificar seu bem-estar, ao menos temporariamente, para que a contenção do vírus tenha sucesso.

Importante frisar que não estou me referindo aqui às pessoas que precisam sair de casa para trabalhar, fazer compras de supermercado e acompanhar alguém ao hospital. Por mais recomendado que seja ficarmos todos em casa, entendo que há situações em que não podemos nos isolar completamente.

Minha crítica vai para as pessoas que insistem em comparecer a aglomerações desnecessárias. E sim, estou incluindo as empresas nesse grupo.

Nunca estivemos tão preparados para lidar com as condições causadas por uma pandemia. A tecnologia facilitou tudo. Temos pagamentos contactless, entrega por aplicativo, Wi-Fi e 4G. Temos a habilidade de trabalhar à distância e evitar qualquer tipo de contato físico que possa colocar a nossa vida e a de outras pessoas em risco.

Ainda assim, vejo várias empresas — cuja operação, é preciso frisar, não depende do offline — forçando a barra e exigindo que seus funcionários voltem para o escritório sem que haja real necessidade. E, para mim, este é o momento em que a o discurso não encontra a prática.

Se você diz que o bem mais precioso da sua empresa são as pessoas e, ao mesmo tempo, faz pressão para que a vida delas seja colocada em risco, então você está provando exatamente o oposto do que fala: que as pessoas não importam.

Se você é um líder que está baixando regras para as pessoas correrem riscos e voltarem para o escritório sem necessidade, você não dá a mínima para quem trabalha com você e para as famílias dessas pessoas. Porque por mais que você acredite que nada vai acontecer (até que acontece), eventualmente alguém pode morrer.

E sua falta de empatia vai ter um papel importante nessa história.

Não vai chocar ninguém, mas existem empresas que carregam o selo Great Place to Work (GPTW) com orgulho e, na outra ponta da mesa, tomam decisões inflexíveis e que colocam a vida das pessoas em risco. Já vi empresas assim perderem funcionários para a doença — e foi esse episódio que me inspirou a escrever sobre a falta de empatia pandêmica pela qual estamos passando.

É por essas e outras que gostaria de realmente enaltecer as empresas que, pensando no melhor das pessoas, estão permitindo o home office e pensando nele como uma solução de longo prazo, não como um inconveniente.

É importante também enaltecer os profissionais que defendem o isolamento social e que pretendem ter um histórico profissional humano, que leva a vida de seus colegas de trabalho a sério.

Essas empresas estão indo além do discurso, que hoje toda empresa diz seguir, e realmente cuidando do seu ativo mais precioso, que permite que elas existam dia após dia. E, se essas empresas levam seus funcionários a sério, então elas estão também quebrando a cabeça para permitir o home office e outras ações que flexibilizam a vida das pessoas. Isso é ação, e ação é mais poderosa do que qualquer discurso genérico.

Sair do discurso é um ato que exige coragem. É sinônimo de optar pelo correto e não pelo mais fácil.

E quanto mais empresas assim tivermos, mais fácil será identificar aquelas que só se importam com lucros e metas, mesmo que elas estejam marcadas com consequências irreparáveis.

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Danilo Ferreira
Danilo Ferreira

Danilo Ferreira, CTO com 20+ anos, especialista em desenvolvimento ágil e liderança técnica. Formado em Computação, MBA em TI, apaixonado por inovação.